terça-feira, 20 de novembro de 2007

Nas Linhas do Machadão

Nas Linhas do Machadão
(Por: Wagner Marques)

Enfim, li Memorial de Aires. Do velho Machado. Último romance seu. Livro excelente. Longe de comparações às Memórias póstumas ou mesmo Dom Casmurro. Mas mantém, sim, a maestria da narrativa contida nestes. Porém, seria ousadia qualquer comparação entre estes. De qualquer sorte, este romance que terminei de ler me deixou bem. Entendo que este Memorial é um canto à relação entre a decrepitude de um homem e seus anseios fugidios. Isso se explicita quando a personagem principal, conselheiro de Aires, – um velho diplomata aposentado – se rende ao encanto de uma jovem viúva, Fidélia, que avistara no cemitério sobrepondo flores no túmulo de seu morto; e, apartir daí, o aposentado cria expectativas de conquista, quando de repente (“não mais que de repente”) se vê flagrado pela sua velhice que aos poucos vai roubando sua própria estima. Para sua piora, ele vê um seu,Tristão, conquistá-la e ao final casar-se com a viúva Noronha. Mas, enfim, como não pode faltar às boas obras machadianas (no caso, as realistas) predomina um humor lascivo, sarcástico. É um livro que tem um selo próprio. Com etiqueta própria. Tratando da velhice como a saudade do indivíduo sobre ele mesmo. Talvez o tratado de uma alma que “poderia ter sido e não foi” o que pudera. Finalizo meu contentamento por ler este livro com uma máxima desse escritor do morro do Livramento: "Não há como a paixão do amor para fazer original o que é comum, e novo o que morre de velho" .

(Wagner Marques)

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